Notas sobre a História

Até finais do século XVIII, a assistência social no nosso país foi reesponsabilidade de privados e da igreja.

Para além da fundação da Casa Pia de Lisboa, em 1780, foi residual a intervenção do Estado na protecção social até 1835, altura em que foi decretada a criação do Conselho Geral de Benefeciência, instrumento que viria a regulamentar e a desenvolver o aparecimento de diversas instituições vocacionadas a combater a mendicidade e a miséria e, por via disso, a proteger os mais desfavorecidos.

A sociedade vimaranense, na altura muita activa e empreendedora, aproveita os festejos da chegada a Lisboa de Sua Majestade a Raínha Dona Leonor, para, no segundo dia das comemorações, em 25 de Maio de 1858, num baile organizado pela Sociedade Recreativa Vimaranense e realizada na Casa dos Pombais, pela voz do ilustre associado Francisco António de Almeida, lançar e fazer aprovar o propósito da criação de um Asilo para a infância desvalida ou para a mendicidade que, de pronto, é designado de Asilo de Santa Estefânia do Amor de Deus e do Próximo.

Não passou um mês (10-06-1858) para que as Comissões Promotoras se constituíssem e fossem participar ao Rei a criação do Asilo e pedir-lhe, a ele, à rainha e às cortes, para instalarem a Instituição no complexo edifício e cerca do Convento de S. José do Carmo. No desfecho favorável de tal diligência, terá sido decisiva, ao que consta, a influência do Visconde de Pindela, João Machado Pinheiro Corrêa de Melo, Governador Civil de Braga e deputado às Cortes por Guimarães.

No jornal Relegião e Pátria, de 15 de julho de 1863, consta: «É amanhã um dia de grande satisfação para esta terra. As portas da caridade já aqui abertas para o enfermo e para o inválido, vão sê-lo também para a infância desvalida (...)»

Francisco António de Almeida
Fachada Principal do Lar de Santa Estefânia

«No dia 16 de julho de 1863, ao romper da manhã, uma banda de música percorreu as ruas da cidade.(...) às nove horas da manhã saíram da Casa de Vila Pouca em direcção ao Asilo seis meninos. Entraram na Instituição por entre o mais vivo e manifesto júbilo de todos os circunstantes (...) Assistiram a uma cerimónia religiosa em acção de graças a Deus Nosso Senhor, em cerimónia capitulada pelo Reverendo Chantre da Insigne e Real Colegiada.»

«Após a leitura e assinatura do Auto de Inauguração e Abertura do Asilo de Santa Estefânia Amor de Deus e do Próximo, o Conde de Vila Pouca proferiu um lindo e elaborado discurso.

A 31 de julho de 1864, cerca de um ano após a sua inauguração e abertura, o Asilo, fruto das contribuições de Dona Maria Conceição Vaz Nápoles, de sua Majestade a Imperatriz do Brasil, Duquesa de Bragança e de outros beneméritos, são acolhidas seis meninas, num fresco e bem arranjado dormitório de oito camas.

Em 1884 o Asilo abriga 50 crianças, entre 15 a 20 externas e pobres. A qualidade do corpo docente do Asilo é reconhecida e pretende-se «bem apetrechado de conhecimentos, régua e palmatória».

Em inícios de 1890, começam a surgir reparos ao funcionamento do Asylo e sua administração interna, sobretudo tendo como termo de comparação o funcionamento do Asylo de D. Pedro V, em Braga. Não se estranha, por isso, que em 31 de Maio de 1890, a administração seja substituída e o internato confiado às irmãs de S. José de Cluny, «estimadas em Lisboa por todos quantos as conhecem».

A partir de 2 de Agosto de 1891, o Asilo deixa de receber rapazes. O último foi José Afonso Pereira.

Com a implantação da Républica (1910), a 28 de Outubro, as irmães de S. José de Cluny são obrigadas «a retirarem-se, a largarem tudo e, «enfarpeladas em roupas emprestadas à pressa», a embarcarem no comboio das sete e meia da manhã».

A gestão interna do Asylo fica entregue a direcções particulares, constituídas por gente recrutada com critério pelas Comissões Administrativas, até que, a 2 de Agosto de 1934, tal função é atribuida à Congregação Espanhola do Amor de Deus, cosntituída então por um grupo de cinco religiosas. Tal Congregação, das Irmãs de Deus e do Próximo ainda hoje é parceira fundamental da Instituição no acolhimento e acompanhamento das crianças e jovens acolhidas.

O Asylo, durante a II Guerra, com 61 bocas jovens para alimentar, subsiste graças à generosidade de inúmeros beneméritos, à acção de uma só professora na Escola Feminina Oficial e às freiras, sempre diligentes e silenciosas. Claro que se alienam 855 metros quadrados de terra à Câmara Municipal para restauração do Paço dos Duques de Bragança, a 10 mil réis o metro quadrado.

O Asylo sofre obras constantes de beneficiação. Algumas controversas. Sempre ao sabor dos parcos fundos que lhe são disponibilizados.

Em 20 de Janeiro de 1969, extingue-se a designação de Asylo, caída em desuso e a instituição passa a ser chamada de Lar de Santa Estefânia.

Com o 25 de Abril o Lar de Santa Estefânia entrou em ebulição. Não financeiramente pois recentemente, tinha depositado cerca de mill e quinhentos contos, fruto da alienação de doações generosas. Entretanto, as instalações são em parte ocupadas pelas Finanças, hospedam-se as primeiras mulheres polícia e as escuteiras da Ilha da Madeira, etc.

Em 31 de janeiro de 1975 cria-se uma segunda resposta social no Lar de Santa Estefânia - o Jardim-de-infância.

De então para cá, o Lar de Santa Estefânia tem acompanhado a evolução que decorre da entrada em vigor das nossas leis de protecção de crianças e jovens, tem mantido e ampliado as suas respostas de creche e pré-escola, tem diversificado a sua resposta de ATL, criou, no exterior, unidades de autonomia para rapazes e raparigas se prepararem para a aproximação à vida ativa, criou uma unidade de saúde, integra a rede de cantinas sociais, criou uma unidade de apoio a mais velhos e a doentes neurológicos, criou uma unidade de agricultura e lazer, criou a Ronda Usera /LSE, com intervenção na área do emprego, dos mais velhos sós e abandonados, dos imigrantes e de outros carenciados, etc.

Muitas são as pessoas que, pelo seu empenho, pelo seu afeto, pela sua generosidade, mereciam uma referência nesta síntese. Seria de todo impossível lista-las, sem o risco de sermos exaustivos e injustos. Que Deus a todas abençoe e agradeça.

Resta-nos afirmar que o Lar de Santa Estefânia pertence em absoluto aos seus associados, que elegem, entre si, quadrienalmente, os Corpos Sociais.



(*) Texto elaborado pelo presidente da Instituição, José Fernando Rodrigues Alves Pinto, por ocasião das comemorações dos 150 anos da Instituição - 16.07.2013